segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Pérolas da 2ª Grande Guerra

Olá amigos!

Interessante o documentário sobre 2ª Guerra Mundial q vi no canal Curta!. Quando falamos em genocídio e segregação racial neste período, os primeiros pensamentos que podem nos ocorrer são HITLER, ALEMANHA NAZISTA, JUDEUS. A verdade, segundo o documentário, é que os americanos na segunda grande guerra fizeram o mesmo que os nazistas, porém de uma forma mais branda, velada, cheias de justificativas e contra OS JAPONESES.

Já havia uma situação de desconforto entre os nativos estadunidenses e os imigrantes nipônicos, bem como seus descendentes nascidos em terras norte-americanas. Com o ataque japonês a Pearl Harbor, essa animosidade foi fomentada, e resultou na assinatura de um documento pelo então presidente Roosevelt, determinando o sequestro dos bens de imigrantes japoneses e nipo-americanos. Eram milhares de pessoas, e muitos eram fazendeiros criadores de gado e agricultores. Foi determinado que eles continuassem cuidando de suas plantações e criações até efetivada a expulsão deles. Qualquer destruição de plantações seriam consideradas crime. Essas medidas alcançavam a todos os nipo-descendentes e imigrantes, sem distinção.

Tempos mais tarde, o presidente Roosevelt assinou novo documento que determinava que todos os N-A e imigrantes japoneses saissem de suas casas e se dirigissem a locais de concentração até a efetiva saida do país. Embora as condições nestes "locais de concentração" fossem ruins e difíceis, ainda eram melhores do que os campos de concentração alemães.

De acordo com o "Concentration Camps and Slave Work", disponível em http://www.vetshome.com/world_war_2_page_5.htm, "Em 19 de fevereiro de 1942, Roosevelt assinou a Ordem Executiva 9066, internando milhares de japoneses, italianos, americanos alemães, e alguns emigrantes do Havaí que fugiram após o bombardeio de Pearl Harbor durante o período da guerra. 150.000 nipo-americanos foram internados pelos governos dos EUA e do Canadá, bem como cerca de 11.000 alemães e italianos residentes de os EUA". Porém, assim como não podemos imputar apenas aos nazistas a prática de confinar pessoas em campos de concentração, assim também não podemos fazer com os estadunidenses. Japoneses e russos também tiveram seus campos de concentração de prisioneiros. Apenas uma observação: O que diferencia os demais aos nazistas alemães e estadunidenses? O tipo de prisioneiro... pessoas inocentes, que cometeram o único crime de serem 'personas non gratas' por conta de sua etnia ou religião, e estarem no meio de uma guerra estúpida, como todas as guerras assim o são. Mas isso é um assunto que requer mais estudos, fontes e pesquisas, e tem que estar isento dos sentimentos pessoais do historiador.

Tudo isso para deixar uma simples pergunta: EM TERMOS DE HISTÓRIA, DÁ PARA SERMOS MANIQUEÍSTAS? Quem é certo? Quem é errado? Podemos apontar nossos dedos sujos de sangue a outros povos e nações?







A História é do mundo, a reflexão é de todos nós, o historiador é você...


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

RESUMÃO DE HISTÓRIA ANTIGA

O QUE É PÓLIS?

Modelo de cidade da Grécia antiga, conjunto de cidadãos, forma de instituição "Estado" do período homérico. As principais póleis do mundo grego a esta época eram ATENAS e ESPARTA.


QUANDO AS PÓLEIS ENTRAM EM CRISE?

Este modelo de "Cidade-Estado" entra em crise à partir da Guerra do Peloponeso, quando as cidades de Atenas e Esparta entram em choque, motivados por problemas financeiros, conflitos sociais e a falta de espaço territorial face ao contingente populacional. A guerra destrói o modelo de autarquia vigente.


RELAÇÃO DE ESCRAVIDÃO


  • ATENAS - Eram benevolentes com seus escravos, concedendo uma série de privilégios. Existiam 3 categorias: Choris Oikuntes, com liberdade de ação, não sujeitos a vigilância constante e em condição de "quase liberdade".
          Os Escravos Públicos eram trabalhadores braçais ou funcionários da administração, e gozavam de    uma condição material melhor que os demais escravos particulares.
          O escravo liberto virava automaticamente um "meteco" (estrangeiro), porém sem quebrar os vínculos com seu antigo senhor. Na Atenas clássica, o escravo poderia se de ORIGEM DE NASCIMENTO, pela GUERRA ou CONDENAÇÃO EM JULGAMENTO (no caso dos metecos).
  • ESPARTA - Não tinha um modelo específico de escravidão. Os Hilotas (servos que habitavam em terras conquistadas) são frequentemente definidos como escravos. Eram todos da mesma origem (diferente do que acontecia em Atenas), permaneciam sempre juntos nos locais onde sempre viveram, praticavam a agricultura nas terras conquistadas e eram recrutados para o exercito. A homogeneidade dos hilotas e sua condição servil resultou em diversas revoltas, dando origem ao Estatuto do Hilota.


GRADUAÇÃO E MODELO DE LIBERDADE

  • ATENAS - Os cidadãos eram livres e donos de terras, enquanto que a metecos e escravos eram destinadas as atividades produtivas (mal vistas para um cidadão). Metecos e escravos eram desprovidos de direitos civis, porém se um meteco (estrangeiro livre) recebesse uma condenação, passaria para a condição de escravo.
  • ESPARTA - A sociedade era dividida entre os "homoioi" (pares, iguais), periecos (homens livres de outras terras) e hilotas (servos de terras conquistadas, frequentemente definidos como escravos). Segundo o Pollux, III, 83, era definida a sua situação como "entre a liberdade e a escravidão".


A MULHER NO OIKOS

De acordo com a literatura homérica, as mulheres (numerosas escravas), se ocupavam nestas unidades humanas, econômicas, de consumo e produção em lides domésticas, atendimento a seus senhores, fiação e tecelagem.
Em relação às senhoras da casa, supervisionam as atividades domésticas e se ocupavam de trabalhos com tecidos. Suas atividades talvez fossem mais intensasque as dos homens (senhores).



AS LACUNAS SÃO PREENCHIDAS PELA LITERATURA NO PERÍODO ARCAICO

O conhecimento de elementos do período arcaico muito se deve aos relatos literários dos poemas épicos de Homero, preenchendo lacunas importantes no conhecimento de aspectos socio-econômicos e políticos da época.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Fichamento - HISTÓRIA ANTIGA

DIVERSAS CATEGORIAS DE ESCRAVOS DO PERÍODO CLÁSSICO, SUAS DIFERENÇAS E CONTRADIÇÕES
 
FLORENZANO, Mª Beatriz F. O Mundo Antigo: Economia e Sociedade (Grécia e Roma),
Ed. Brasiliense, São Paulo: 1982.
 
Por Mônica Santos
(Graduanda em História pela UCAM - Universidade Candido Mendes
Campus Santa Cruz)
 
 
SOCIEDADE ATENIENSE
 
"A sociedade era formada por três categorias: os cidadãos atenienses, os metecos (estrangeiros) e os escravos." (p. 38)
"Se, de um lado, durante o período classico, a democracia ateniense foi cada vez mais abrangente no que diz respeito ao cidadão, de outro fechou-se mais e mais para metecos e escravos." (p. 41)
"As atividades lucrativas (...), recebiam o mesmo tipo de tratamento ou pior do que os trabalhos manuais. Escravos e Metecos dedicavam-se a elas livremente, mas um cidadão era mal visto se o fizesse." (p. 42)
"Qualquer deslize significava, para o meteco, a possibilidade de cair em escravidão." (p. 43)
 
 
ESCRAVIDÃO EM ATENAS
 
"Na Atenas classica, o escravo poderia ter várias origens: o nascimento, a guerra, a condenação em julgamento, no caso dos metecos." (p. 44)
"Com frequencia os escravos eram tratados com benevolência e gozavam de uma série de 'privilégios'." (p. 44)
"Muitos escravos (...) exerciam a profissão fora da casa do seu senhor, dando-lhe parte do produto do seu trabalho." (p. 44)
"Outros escravos (...) obtinham (...) a autorização de morar onde quisessem. (...) Para a condição de livres faltava-lhes pouco." (p. 45)
"Outro tipo de escravo considerado 'privilegiado' era o escravo público. (...) os escravos do Estado gozavam de uma condição material de vida melhor que daquela dos escravos particulares" (p. 45)
"O escravo liberto tornava-se automaticamente um meteco (rara vez um cidadão)" (p. 45)
"Entretanto, a liberdade de um ex-escravo (...) mantinha vivos os vínculos entre escravo liberto e seu senhor." (p. 45)
 
 
SOCIEDADE ESPARTANA
 
"Esta cidade é considerada pelos historiadores como 'menos desenvolvida'." (p. 49)
"(...) no contexto geral geral das póleis gregas, (...) Esparta era 'atrasada'." (p. 50)
"Três eram as categorias em que se dividia a sociedade espartana: os homoioi (pares, iguais); os periecos e os hilotas." (p. 50)
 
 
"ESCRAVIDÃO" ESPARTANA
 
"A escravidão (no sentido de escravo-mercadoria) e a democracia não vieram a luz ali." (pp. 49 e 50)
"A população submissa aos cidadãos espartanos estava dividida em periecos e hilotas" (p. 51)
"Os periecos formavam comunidades autônomas (...) Eram homens livres." (p. 51)
"Os Hilotas (...) são frequentemente definidos como escravos. (...) Habitavam as terras conquistadas pelos espartanos: eram todos da mesma origem e, (...) permaneciam juntos nos locais onde sempre moraram." (p. 52)
"A condição de hilota (...) possibilitou sua união em reinvindicações contra o estado espartano. Durante os períodos arcaico e classico, os espartanos tiveram que enfrentar muitas revoltas servis (...)." (p. 52)
"O estatuto dos hilotas foi definido já na antiguidade como um dos casos 'entre a liberdade e a escravidão' (Pollux, III, 83)." (p. 53)
 
 
DIFERENÇAS E CONTRADIÇÕES
 
"Não se observa na sua estrutura social [em Esparta] a nitidez existente em Atenas entre as diferentes camadas sociais." (p. 49)
"(...) eram muito diferentes [os hilotas] dos escravos de Atenas, por exemplo, que vinham de muitas regiões do mundo bárbaro e grego." (p. 52)
"Tais tipos de rebeliões [servis] jamais foram conhecidas em Atenas graças a heterogeneidade dos escravos, a falta de identidade entre eles e à diversidade de condição de vida de cada um (...)." (p. 53)
 
 
CONCLUSÃO
 
"Como nos tempos homéricos, o escravo é uma mercadoria comprada em um mercado e pertencente a um dono que dispõe dela como qualquer outro animal." (p. 44)
"A escravidão aumentou consideravelmente em toda a Grécia durante o período classico." (p. 46)
"(...) a noção de democracia caminha de mãos dadas com a de escravidão, e a noção de cidadão com a de escravo. O periodo classico é a época em que se cristalizam as diferenças entre as três categorias sociais que formavam a sociedade ateniense (...)." (p. 47)
"Em todos estes exemplos, os indivíduos permanecem presos a terra, não circulam como mercadorias e o seu trabalho reverte em benefício de alguns poucos." (p. 53)
 
 
 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

31ª Semana de Estudos Clássicos

Essa vai tanto pro pessoal de História como pro pessoal de Letras:



Pra nós na UCAM - Santa Cruz acredito ser um pouco difícil, pois coincide com a Semana Acadêmica da unidade, mas pra quem puder acompanhar os dois, fica a dica.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

AVISO DE ORDEM DO BLOG

Queridos leitores, em função dos loucos e desocupados da net, o blog AS PRETINHAS DA HISTÓRIA vai deletar qualquer comentário que não esteja nominada por uma pessoa real e com um perfil no mínimo sério e voltado aos estudos históricos.

Perfis como "Se a Vida te Der Limões, Faça uma Limonada", ou "É Nóis na Fita", e similares NEM SERÃO CONSIDERADOS! Serão deletados sumariamente.

Embora os blogs sejam território livre pra postar qualquer coisa, nosso blog tem um compromisso com a HISTÓRIA, enquanto disciplina acadêmica e enquanto ciência, portanto não há espaço para informações desconexas, "achismos" e perfis absurdos de usuários descompromissados com a seriedade que o blog requer.

GRATA PELA COMPREENSÃO!

domingo, 19 de agosto de 2012

CURIOSIDADES HISTÓRICAS - Um Visitante Inconveniente

Charge de Angelo Agostini debochando da visita de conde d'Eu à Escola Militar
Charge de Angelo Agostini  debochando da
visita de conde d'Eu à Escola Militar
Em plena sala de aula, bate boca entre conde d'Eu e um professor de História traz a tona a crise da monarquia no Brasil.
Por ROBERT DAIBERT JUNIOR, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de "Isabel, a 'Redentora dos Escravos': Uma história da princesa entre olhares negros e brancos (EDUSC, 2004)

No meio da aula, entra na sala uma autoridade. São tempos tensos, e o professor, que se opõe ao regime vigente, aproveita a situação para afrontar o nobre visitante, acusando sua família de responsabilidade por um antigo massacre. Os alunos passam então a assistir, incrédulos, a um acalorado bate-boca – “Isso é que é lição de História!”, pode ter pensado um deles. Teria toda a razão...

O episódio inusitado aconteceu em 1882, e simboliza perfeitamente a crise política que dominava o país anos antes da proclamação da República. De um lado, Alfredo Moreira Pinto, o professor, republicano convicto. Do outro, o conde d’Eu, o visitante, ilustre membro da família imperial. Bastou um gesto interpretado como descortês pelo mestre para que o conflito viesse à tona.

Assim que entrou na sala de aula, o conde d’Eu não tirou o chapéu. Vindo de um membro da monarquia, o que poderia ser apenas um esquecimento foi tomado como prova da empáfia da nobreza, cujos privilégios irritavam os republicanos. Ofendido, Moreira Pinto resolveu mudar o tema de sua palestra para os alunos da Escola Militar. Começou a falar sobre a sangrenta noite de São Bartolomeu – quando, em 1572, milhares de protestantes foram assassinados, em matança comandada pela casa real francesa. Numa clara provocação, o professor atribuiu a Carlos IX, o jovem rei da França, a responsabilidade de fuzilar pessoalmente, das janelas do Louvre, muitos protestantes fugitivos. Descendente de Carlos IX, o conde d’Eu entendeu o recado e entrou em rota de colisão com o expositor: negou que o rei tivesse sujado as mãos no massacre. Moreira Pinto insistia em sua versão.  Os ânimos se exaltaram, para deleite da plateia. Até que o professor suspendeu a aula, alegando não admitir contestações no exercício de seu ofício.

Alfredo Moreira Pinto não era um republicano qualquer. Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, dedicava-se ao estudo da história e da geografia do país – publicaria obras de referência, como o Dicionário Geográfico do Brasil (1884) –, e em dezembro de 1870 foi um dos que assinaram o Manifesto Republicano. Dois anos depois, quando se comemorava o cinquentenário da independência, publicou um livro, Martyres da liberdade: às sagradas cinzas de João Guilherme Ratcliff e de seus companheiros de martírio da Heroica Província de Pernambuco, Theatro da gloriosa revolução de 1824, em que denunciava D. Pedro I por condenar à forca João Guilherme Ratcliff, participante da Confederação do Equador, movimento separatista de 1824.

A discussão com o conde d’Eu rendeu-lhe uma reprimenda de seu superior. O francês não só era genro do imperador D. Pedro II, como ocupava a posição de marechal do Exército. Por isso, a afronta de Moreira Pinto foi vista como quebra de hierarquia, e ele recebeu um puxão de orelhas do diretor do colégio nesses termos: “Devo prevenir a V.S. que só se vestirá de prestígio e por este modo honrará a Escola, quando, sabendo respeitar a quem deve, conseguir captar o respeito de quem precisa”. Inconformado, o professor apresentou seu pedido de aposentadoria. Mas D. Pedro II o recusou.

Pintura representando a Noite de São Bartolomeu: Massacre ocorrido
no reinado de Carlos IX, antepassado do conde d'Eu

A reação revela a astúcia política do imperador: ao impedir a saída de Moreira Pinto, D. Pedro evitou que o episódio servisse de munição aos adversários da monarquia – ainda mais tendo como palco a Escola Militar, que durante a década de 1880 tornara-se um viveiro de jovens republicanos. Os alunos chegavam a organizar clubes secretos onde cantavam a “Marselhesa”, hino da Revolução Francesa. Grande parte deles vinha de famílias pobres e encontrava no colégio uma oportunidade de ascensão social. Formavam-se oficiais engenheiros aptos a trabalhar em serviços públicos civis. No entanto, o status social dos jovens militares continuava baixo se comparado aos bacharéis em Direito, que conseguiam com mais facilidade acesso a cargos administrativos e políticos. Este era um ponto-chave na crítica dos militares republicanos ao regime vigente: atacavam os privilégios e defendiam o mérito pessoal como princípio de organização da sociedade. E embora o conde d’Eu integrasse a oficialidade do Exército, ele era visto como um apadrinhado: chegara à posição de marechal por benesses da nobreza, e não por capacidade própria. Sua nomeação desprestigiara os generais de carreira.

A imagem pública do marido da princesa Isabel não era nada boa, e não só entre os militares. A população o acusava de ser ganancioso, avarento, agiota e explorador de aluguéis de cortiços. Era ridicularizado por tudo. Parcialmente surdo, não conseguia se comunicar bem: muitas vezes interpretava errado o que lhe diziam e falava muito alto em ambientes que exigiam postura discreta. Pronunciava com dificuldade o português, carregado de erres e em tom de choro.

Nenhum detalhe escapava aos seus opositores. Reparavam até no desleixo com que se apresentava: despenteado, com cabelos arrepiados, botinas sujas, casacas cheias de dobras, cartolas amassadas e calças arregaçadas até os tornozelos. Para piorar, sofria de problemas gástricos e estava sempre doente. Segundo as más línguas, os incômodos não passavam de somatizações devido ao poder de sua esposa, futura imperatriz do Brasil. Desde o início do casamento, pesou sobre ele a obrigação de gerar filhos que pudessem herdar o trono. A longa espera de dez anos até a primeira gravidez da princesa (que só veio em 1874) provocou comentários maldosos a respeito de sua masculinidade.

Os rumores, maledicências e boatos ganhavam significado político nas rodas republicanas. Com o objetivo de anular a figura de Isabel, mostravam-na como simples joguete nas mãos do marido. Em São Paulo, o jornal humorístico O Grito do Povo foi fundado em 1899 com essa finalidade. O político e jornalista Silva Jardim, o mais exaltado propagandista da República, escolheu o genro do imperador como alvo de violentos ataques. Chegou mesmo a segui-lo em viagem ao Norte do país, buscando neutralizar sua campanha em favor do Terceiro Reinado – proposta que previa Isabel assumindo o trono do pai. Nos discursos mais inflamados, Silva Jardim chegou a pregar o fuzilamento do conde d’ Eu.

Desenho representando o triunfo da República
sobre a Monarquia
A tática de Moreira Pinto foi outra: ele tentou fuzilar o conde e a monarquia com palavras. Ou melhor, com lições de História. Ao recusar o pedido de aposentadoria do professor em 1882, D. Pedro havia conseguido pôr uma pedra sobre o caso. Mas em março de 1889, um fato novo fez a pedra rolar. O governo vinha tomando diversas providências para neutralizar o potencial explosivo de ideias e armas cultivadas na Escola Militar. Chegou a dividi-la em duas, com a criação da Escola Superior de Guerra (em São Cristóvão). Em meio a tantas reformas, apenas um professor foi aposentado compulsoriamente: Alfredo Moreira Pinto.

O mestre procurou a imprensa, e a discussão travada anos atrás em sua aula de História ganhou repercussão. Os últimos meses da monarquia no Brasil foram marcados por intensas agitações políticas, debates e conspirações, e a aula de Moreira Pinto caiu como uma luva na intensa campanha promovida pelos republicanos. A doença e o enfraquecimento do imperador alimentavam rumores de que sua filha já governava nos bastidores, e o pior: com o auxílio do marido. Nas palavras de Rui Barbosa, publicadas no Diário de Notícias, o afastamento do professor era a “satisfação de uma vingança, incubada na impotência de longos sete anos”.

Silva Jardim também explorou o episódio em suas conferências republicanas. Em defesa de Moreira Pinto, afirmou que a carnificina promovida pelo rei da França na Noite de São Bartolomeu precisava ser ensinada sem nenhuma censura. Relacionando o fato histórico com o presente e com o possível futuro do Brasil, perguntava: “O que seria desse país entregue a um mau príncipe que pertence à família de gente ruim? (...) Eis em resumo o que é a família do conde d’Eu: gente sem equilíbrio moral, egoísta e perversa”.

Após a proclamação da República, toda a família imperial foi exilada. O retorno do conde d’Eu ao Brasil só foi possível em 1921, quando o banimento foi revogado. Voltou acompanhado do filho mais velho e de alguns netos. A princesa Isabel, já idosa, encontrava-se em uma cadeira de rodas na França, impossibilitada de voltar ao país. A monarquia não representava mais perigo, e o conde d’Eu recebeu homenagens em diversas cerimônias.

Uma dessas solenidades, organizada na Vila Militar do bairro de Deodoro, contou com a presença de autoridades como o ministro da Guerra e o chefe do Estado-Maior do Exército. Entre os convidados, estavam também alguns daqueles que haviam contribuído para seu exílio de 32 anos e trabalhado pela anulação de sua patente de marechal do Exército, riscando-a do Almanaque Militar. Sem se incomodar com isso, o conde passou a narrar sua participação na Guerra do Paraguai. A conversa assumiu o tom de uma aula de História. A diferença era que, desta vez, ele era convidado. A surdez avançada não o impediu de ouvir as provocações de alguns “alunos” presentes, que dispararam altos e sonoros vivas à República. Não havia mais tempo de incubar vinganças. A resposta do conde d’Eu foi rápida e carregada de fina ironia. Quebrando o silêncio que se seguira aos gritos, ele exclamou: “Viva o sempre valoroso Exército brasileiro!”. A lição não terminava ali.



Estranho no ninho 

Desde pequeno, Louis Phillipe Marie Ferdinand Gaston d’Orléans, o conde d’Eu (1842-1922), acostumou-se à condição de estrangeiro. Aos 6 anos, teve que deixar a França quando a revolução de 1848 destronou seu avô, o rei Luís Felipe, e levou toda a família ao exílio. Passou a infância e a adolescência refugiado na Inglaterra, país oficialmente protestante, que só tolerava o catolicismo em reuniões domésticas. Por muitos anos, sua família viveu de favores, em um palácio emprestado.

Morou também na Espanha, onde iniciou carreira no Exército, estudou na Academia Militar de Segóvia e chegou a lutar contra o Marrocos, na África, nos primeiros meses de 1860. Mas era sempre visto como um príncipe expulso de seu país de origem, e por isso rejeitado.

Em 1864, chegava ao Brasil um jovem marcado por longa experiência distante de seu país de origem. Aos 22 anos, ainda buscando afirmar sua posição e identidade, casar-se com uma princesa brasileira pareceu-lhe uma ótima oportunidade. Não teve jeito: uma vez estrangeiro, sempre estrangeiro.

Quis o destino que o francês sem pátria morresse em alto-mar. Foi no dia 28 de agosto de 1922, quando viajava para Brasil para a comemoração do centenário da Independência. O corpo foi velado no Rio de Janeiro, retornou a França, mas hoje repousa mesmo no Brasil. Mais precisamente em Petrópolis, cidade imperial, para onde foi transladado em 1953.

Escola Militar: palco da discussão entre conde d'Eu e o
Professor de História Alfredo Moreira Pinto


FONTE:
REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Rio de Janeiro: Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional,
nº 46, Julho. 2009